Yeda Prates Bernis

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Sabedoria

O sol a lua as estrelas

as montanhas as colinas

a orquídea a rosa a camélia

o jardim a gota d’água

- quietude zen -

aprenderam desde sempre

e rnais que os homens

a eloquência do silêncio

- Yeda Prates Bernis, no livro "Entressombras".



Dúvida

O que tocou de leve

na pele de meu desejo

foi um floco de neve

ou foi teu beijo?

- Yeda Prates Bernis, no livro "À beira do outono".



Vem o beija-flor

do horizonte

molhado de arco-íris.

- Yeda Prates Bernis, no livro "Encostada na paisagem".




Consciência

Faço e desfaço

o largo laço

do sentimento.

Mordo ou remordo

o alimento

que a vida doa à toa,

Rosto e desRosto de mel e fel.

Rompo ou corrompo a simetria

do dia.

Consinto, sinto

a insuficiência

na só regência

do coração,

mordido cão.

Relevo. E levo

alta alquimia

sobre meus ombros: poesia

e escombros.

- Yeda Prates Bernis, no livro "Pêndula".



Cai da folha

a gota dágua. Lá longe

o oceano aguarda.

- Yeda Prates Bernis, no livro "Grão de arroz".




Véspera

Um cio

antiquíssimo

engravida sons e cores.


Polens de luz

inseminam

a corola do dia.


Levita

de leve

a seiva das coisas


E busca o apelo

do que será

esplendor.


(pise de leve

para não assustar

setembro.)

- Yeda Prates Bernis, no livro "O rosto do silêncio".



Ritmos

Pêndulos do relógio

e do coração

ritmos díspares

de emoção e mecânica

não marcam juntos

o canto da minha partitura:

entre os dois por vezes pairo

num tempo suspenso

indissolúvel imóvel.

- Yeda Prates Bernis, no livro "À beira do outono".



Quase haicai

Do beiral dos dias

cai sobre mim

tênue chuva de estrelas,

estou molhada de luz

- Yeda Prates Bernis, no livro "À beira do outono".



Não retire

de seus olhos

este fiapo de sol.

- Yeda Prates Bernis, no livro "Encostada na paisagem".



O coração da aranha

se desfaz em geometria

de seda e mandala

- Yeda Prates Bernis, no livro "Cantata - 'Antologia poética - não cronológica'".



Momento

Depois da chuva,

a penumbra visita a sala.

Um mistério sobrevoa o ambiente.


Não é tarde nem é noite,

avisam os vidros das janelas.


O silêncio se esconde

entre móveis e lembranças.


A alma desce os degraus dos dias,

procura a infância,

quer abraçar, dar carinho esquecido.

E um véu de espessas brumas

oculta o que hoje

é um claro esquecimento.

- Yeda Prates Bernis, no livro "Entressombras".



Francisco

Teu gesto,

sagrada

vitória

da loucura.

Teus passos,

pegadas

de luz

pelos tempos.

Teu espírito,

leveza

de voo

de teus pássaros.

Teu amor,

reflexo

do olhar

divino

- Yeda Prates Bernis, no livro "Cantata - 'Antologia poética - não cronológica'".



Ritmos

Pêndulos do relógio

e do coração

ritmos díspares

de emoção e mecânica

não marcam juntos

o canto da minha partitura:

entre os dois por vezes pairo

num tempo suspenso

indissolúvel imóvel.

- Yeda Prates Bernis, no livro "À beira do outono".



Aquelas palavras

Nódoas na alvura

do linho.


Sobre a pedra

do olvido

deixá-las

em água e vento.


Para sempre

alcem vôo.

- Yeda Prates Bernis, no livro "O rosto do silêncio".






Yeda Prates Bernis - Escritora brasileira, membro da Academia Mineira de Letras.