Shakespeare

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Soneto 91

Uns se orgulham do berço, ou do talento;

Outros da força física, ou dos bens;

Alguns da feia moda do momento;

Outros dos cães de caça, ou palafréns.

Cada gosto um prazer traz na acolhida,

Uma alegria de virtudes plenas;

Tais minúcias não são minha medida.

Supero a todos com uma só apenas.

Mais do que o berço o teu amor me é caro,

Mais rico que a fortuna, e a moda em uso,

Mais me apraz que os corcéis, ou cães de faro,

E tendo-te, do orgulho humano abuso.

O infortúnio seria apenas este:

Tirar de mim o bem que tu me deste.

William Shakespeare: 42 Sonetos (tradução e apresentação de Ivo Barroso).



“Ser ou não ser” – Hamlet, Ato 3 Cena 1

Ser ou não ser, eis a questão. Acaso

É mais nobre a cerviz curvar aos golpes

Da ultrajosa fortuna, ou já lutando

Extenso mar vencer de acerbos males?

Morrer, dormir, não mais. E um sono apenas,

Que as angústias extingue e à carne a herança

Da nossa dor eternamente acaba,

Sim, cabe ao homem suspirar por ele.

Morrer, dormir. Dormir? Sonhar, quem sabe!

Ai, eis a dúvida. Ao perpétuo sono,

Quando o lodo mortal despido houvermos,

Que sonhos hão de vir? Pesá-lo cumpre.

Essa a razão que os lutuosos dias

Alonga do infortúnio. Quem do tempo

Sofrer quisera ultrajes e castigos,

Injúrias da opressão, baldões do orgulho,

Do mal prezado amor choradas mágoas,

Das leis a inércia, dos mandões a afronta,

E o vão desdém que de rasteiras almas

O paciente mérito recebe,

Quem, se na ponta da despida lâmina

Lhe acenara o descanso? Quem ao peso

De uma vida de enfados e misérias

Quereria gemer, se não sentira

Terror de alguma não sabida cousa

Que aguarda o homem para lá da morte,

Esse eterno país misterioso

Donde um viajor sequer há regressado?

Este só pensamento enleia o homem;

Este nos leva a suportar as dores

Já sabidas de nós, em vez de abrirmos

Caminho aos males que o futuro esconde,

E a todos acovarda a consciência.

Assim da reflexão à luz mortiça

A viva cor da decisão desmaia;

E o firme, essencial cometimento,

Que esta idéia abalou, desvia o curso,

Perde-se, até de ação perder o nome.

– Shakespeare [(tradução Machado de Assis), em “Poesias Ocidentais”/Obra Completa, Machado de Assis, vol. III.



Soneto XV

Quando penso que tudo o quanto cresce

Só prende a perfeição por um momento,

Que neste palco é sombra o que aparece

Velado pelo olhar do firmamento;

Que os homens, como as plantas que germinam,

Do céu têm o que os freie e o que os ajude;

Crescem pujantes e, depois, declinam,

Lembrando apenas sua plenitude.

Então a idéia dessa instável sina

Mais rica ainda te faz ao meu olhar;

Vendo o tempo, em debate com a ruína,

Teu jovem dia em noite transmutar.

Por teu amor com o tempo, então, guerreio,

E o que ele toma, a ti eu presenteio.

– Shakespeare, em “Poemas de amor de William Shakespeare” (tradução Barbara Heliodora).



Soneto XVIII

Se te comparo a um dia de verão

És por certo mais belo e mais ameno

O vento espalha as folhas pelo chão

E o tempo do verão é bem pequeno.

Às vezes brilha o Sol em demasia

Outras vezes desmaia com frieza;

O que é belo declina num só dia,

Na eterna mutação da natureza.

Mas em ti o verão será eterno,

E a beleza que tens não perderás;

Nem chegarás da morte ao triste inverno:

Nestas linhas com o tempo crescerás.

E enquanto nesta terra houver um ser,

Meus versos vivos te farão viver.

– Shakespeare, em “Poemas de amor de William Shakespeare” (tradução Barbara Heliodora).



Soneto XXIII

Como no palco o ator que é imperfeito

Faz mal o seu papel só por temor,

Ou quem, por ter repleto de ódio o peito

Vê o coração quebrar-se num tremor,

Em mim, por timidez, fica omitido

O rito mais solene da paixão;

E o meu amor eu vejo enfraquecido,

Vergado pela própria dimensão.

Seja meu livro então minha eloquência,

Arauto mudo do que diz meu peito,

Que implora amor e busca recompensa

Mais que a língua que mais o tenha feito.

Saiba ler o que escreve o amor calado:

Ouvir com os olhos é do amor o fado.

– Shakespeare, em “Poemas de amor de William Shakespeare” (tradução Barbara Heliodora).



Soneto 138

Quando jura ser feita de verdades,

Em minha amada creio, e sei que mente,

E passo assim por moço inexperiente,

Não versado em mundanas falsidades.

Mas crendo em vão que ela me crê mais jovem

Pois sabe bem que o tempo meu já míngua,

Simplesmente acredito em falsa língua:

E a patente verdade os dois removem.

Por que razão infiel não se diz ela?

Por que razão também escondo a idade?

Oh, lei do amor fingir sinceridade

E amante idoso os anos não revela.

Por isso eu minto, e ela em falso jura,

E sentimos lisonja na impostura.

- William Shakespeare: 42 Sonetos (tradução e apresentação de Ivo Barroso).



Soneto 71

Não chores mais por mim quando eu morrer

do que ouças sino lúgubre que diz

aviso ao mundo de que eu fui viver,

ido do mundo vil, com vermes vis.

Nem o ler deste verso te recorde

a mão que o escreveu, pois te amo tanto,

que em teu doce pensar eu não acorde

se o pensar em mim te causar pranto.

Ou se (digo eu) olhares esta linha,

quando eu já for (talvez) lama abatida,

não repitas o nome que eu já tinha

e caia o teu amor com a minha vida.

Se não o mundo ao ver-te em luto pôr

há-de troçar de ti quando eu me for.

– Shakespeare, em “Os sonetos completos de William Shakespeare” (tradução e notas Vasco Graça Moura).



"Nossos corpos são nossos jardins, nossas vontades são nossos jardineiros."

Shakespeare, em Otello.



"Devemos aceitar o que é impossível deixar acontecer".

-Shakespeare, em “As Alegres Comadres de Windsor” Ato V - Cena V.







William Shakespeare ( 23 de abril de 1564, Stratford, Inglaterra - 23 de abril de 1616, Stratford, Inglaterra). Dramaturgo, escritor e poeta inglês,