Monteiro Lobato

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"O que a sua cabeça pensou ninguém o saberá jamais. Têm as idéias para escondê-las a caixa craniana, o couro cabeludo, a grenha: isso por cima; pela frente têm a mentira do olhar e a hipocrisia da boca. Assim entrincheiradas, elas, já de si imateriais, ficam inexpugnáveis à argúcia alheia. E vai nisso a pouca felicidade existente neste mundo sublunar. Fosse possível ler nos cérebros claros como se lê no papel e a humanidade crispar-se-ia de horror ante si própria..."

- Monteiro Lobato, em conto "Pollice verso", livro Urupês, 1918.



"Dizem que o Brasil não lê! Uma ova! A questão é saber levar a edição até o nariz do leitor, aqui ou em Mato Grosso, no Rio Grande do Sul, no Acre, na Paraíba, onde quer que ele esteja, sequioso por leituras... Livro cheirado é livro comprado, e quem compra, lê. Se o Brasil não lia é porque os velhos editores, na maior parte da santa terrinha, limitavam-se a inumar os volumes nas poeirentas prateleiras das suas próprias livrarias, e quem quiser que tome o trem, ou o navio, e vá ao Rio comprá-los. Umas bestas! O Brasil está é louco por leituras. Só os editores é que não sabiam disso!"

- Monteiro Lobato, em MATTOS, Ilmar Rohloff de: "No sítio de José Bento". Relatório do Projeto Integrado de Pesquisa Modernos descobrimentos do Brasil - 1997.



"Há dois modos de escrever. Um, é escrever com a idéia de não desagradar ou chocar ninguém (...) Outro modo é dizer desassombradamente o que pensa, dê onde der, haja o que houver - cadeia, força, exílio."

- Monteiro Lobato, em carta a João Palma Neto, São Paulo, 24.01.1948.



Solidão mental... Sinto-a completamente aqui. O cérebro embolora. Só resta a natureza. Abre a janela. Que paisagem! Céu, serra e vale. Céu - gaze de puríssimo azul translúcido. Serra - a Mantiqueira, rude muralha de safira. Vale - o do Paraíba, tapête sem ondulações que lhe enruguem o plaino. Ao longo do vale singra uma pinta branca, vôo de giz e vôo da garça em manhã assim! Neve sôbre azul!... Súbito... - o bando. Vinham em bando alongado, ora a erguer-se uma, ora a baixar-se outras, estas ganhando a dianteira, aquelas atrasando-se. Passam a quilómetro da minha janela, tão nítidas que lhe percebo o aflar das asas. Mas... Outro bando! E outro, atrás! E outro bem longe!... Jamais vi tantas, e em tão formoso quadro. Subiam rio acima. Emigravam. Passavam. Passaram. E deixaram-me com a alma tonta de beleza, e a sonhar mil coisas..."

- Monteiro Lobato, em seu "Diário".



"Escrever para crianças é semear em terra roxa virgem - e não praguejada. Cérebro de adulto é solo já praguejado."

- Monteiro Lobato, em Carta a Otaviano Alves de Lima, 13 de agosto de 1946.



"...para crianças, um livro é todo o mundo. Lembro-me de como vivi dentro do Robinson Crusoé do Laemmert. Ainda acabo fazendo livros onde as nossas crianças possam morar. Não ler e jogar fora; sim morar, como morei no Robinson e n’Os filhos do capitão Grant."

- Monteiro Lobato, em "A barca de Gleyre II".



"Nada de imitar seja lá quem for. (...) Temos de ser nós mesmos (...) Ser núcleo de cometa, não cauda. Puxar a fila, não seguir."

- Monteiro Lobato, em carta a Godofredo Rangel, São Paulo, 15.11.1904.



"Dá-me prazer e traz-me compensações, coisas que jamais senti e tive escrevendo para marmanjos. Prazer... Será que a criança subsiste sempre no adulto? Hum...Vem daí a sabedoria popular dizer que a velhice é um retorno à puerilidade. [...] O gosto que sinto em escrever histórias que irão dar prazer às crianças, prova que estou chegando à idade mental delas. A criança que mais se diverte com as minhas histórias é a que subsiste ou está renascendo dentro de mim. Eis tudo... Velhice."

- Monteiro Lobato, em Apud MATTOS, Ilmar Rohloff de: "No sítio de José Bento". Relatório do Projeto Integrado de Pesquisa Modernos descobrimentos do Brasil - 1997.



“A Verdade nua manda dizer que entre as raças de variado matiz, formadoras da nacionalidade e metidas entre o estrangeiro recente e o aborígine de tabuinha em beiço, uma existe a vegetar de cócoras, incapaz de evolução, impenetrável ao progresso. Feia e sorna, nada a põe de pé. Pobre Jeca Tatu! Como é bonito no romance e feio na realidade! Jeca Tatu é um Piraquara do Paraíba, maravilhoso epitome de carne onde se resumem todas as características da espécie. O fato mais importante da vida do Jeca é votar no governo. A modinha, como as demais manifestações de arte popular existente no país, é obra do mulato, em cujas veias o sangue recente do europeu, rico de ativismos estéticos, borbulha d´envolta com o sangue selvagem, alegre e são do negro. O caboclo é soturno. Não canta senão rezas lúgubres. Não dança senão o cateretê aladainhado. O caboclo é o sombrio Urupê de pau podre a modorrar silencioso no recesso das grotas. Bem ponderado, a causa principal da lombeira do caboclo reside nas benemerências sem conta da mandioca. Talvez sem ela se pusesse de pé e andasse. Mas enquanto dispuser de uma pão cujo preparo se resume no plantar, colher e lançar sobre brasas, Jeca não mudará de vida. O vigor das raças humanas está na razão direta da hostilidade ambiente. Se a poder de estacas e diques o holandês extraiu de um brejo salgado a Holanda, essa joia de esforço, é que ali nada o favorecia.!”

- Monteiro Lobato, em o conto "Urupês".



"O que não somos nunca é ovelha - fiel ovelha do Santo Padre, de sua Majestade o Rei, do Partido, da Convenção Social, dos Códigos da Moral Absoluta, do Batalhão, de tudo que mata a personalidade das criaturas."

- Monteiro Lobato, em carta a Godofredo Rangel, Fazenda, 07.06.1914.



"Esta minha saída serviu para me revelar uma coisa: o que é a pátria. Pátria é a língua, nada mais. O sair fora da língua nos deixa aleijados - "despatriados"- expatriados. Viver é sobretudo conversar, e como conversar em pátria estranha, isto é, em língua estranha? A grande coisa que há no Brasil para os brasileiros não é o Duque de Caxias, nem o general Dutra - é a língua."

- Monteiro Lobato



"As fábulas constituem um alimento espiritual correspondente ao leite na primeira infância. Por intermédio delas a moral, que não é outra coisa mais que a própria sabedoria da vida acumulada na consciência da humanidade, penetra na alma infante, conduzida pela loquacidade inventiva da imaginação. Esta boa fada mobiliza a natureza, dá fala aos animais, às árvores, às águas e tece com esses elementos pequeninas tragédias donde resulte a ‘moralidade’, isto é, a lição da vida. O maravilhoso é o açúcar que disfarça o medicamento amargo e torna agradável a sua ingestão."

- Monteiro Lobato, em Fábulas, 1918.


Monteiro Lobato e seus personagens do “Sítio do Picapau Amarelo".


"Não há cultura possível sem livro e livro barato, livro que penetre nas massas populares e lhes erga o nível mental. Que nos vale ter picos como Rui Barbosa, se a planície se apresenta um dos mais baixos níveis culturais do mundo? (...) O livro barato, acessível ao povo, tem sido a nossa obsessão de editores falidos e ressurgidos, (...)."

- Monteiro Lobato - Cartas escolhidas I. Apud AZEVEDO, Carmen Lúcia de: Monteiro Lobato: furacão na Botocúndia - 1997.



"- Sou de pano, sim, mas de pano falante, engraçado paninho louco, paninho aqui da pontinha. Não tenho medo de vocês todos reunidos. Agüento qualquer discussão. A mim ninguém embrulha nem governa. Sou do chifre furado - bonequinha de circo. Dona Quixotinha."

- Monteiro Lobato, “Dom Quixote das Crianças".



Lúcia Lambertini, a primeira Emília.



"Eu adoro Emília e, ao escrever os livros nesta máquina, sou o primeiro que me rio das coisinhas que ela diz."

-Monteiro Lobato, “Lobato Letrador: Anexos”, 2019.



"O chamado progresso não passa de uma escravização cada vez mais apertada, que as massas consentem e aplaudem e, portanto, impõem à minoria individualista (...) Ignoro se é para o bem ou para o mal nosso que progredimos em corporatividade e diminuímos em indivíduo. Vamos tendendo para a vida da colméia, onde o indivíduo não conta. A marcha para a frente é dirigida, mais e mais, por fatores corporados, com rumo a um ideal coletivo. O motor e a eletricidade, como os temos agora, a imiscuírem-se em quase todos os atos da nossa vida diária, nos gregarizam mil vezes mais do que no tempo de Thoreau."

- Monteiro Lobato, em América. Apud AZEVEDO, Carmen Lúcia de: Monteiro Lobato: furacão na Botocúndia. São Paulo.


"No fundo não sou literato, sou pintor. Nasci pintor, mas como nunca peguei nos pincéis a sério arranjei, sem nenhuma premeditação, este derivativo de literatura, e nada mais tenho feito senão pintar com as palavras.”

- Monteiro Lobato, em carta a Godofredo Rangel, Areias, 06.07.1909.


"Tudo é loucura ou sonho no começo. Nada do que o homem fez no mundo teve início de outra maneira — mas já tantos sonhos se realizaram que não temos o direito de duvidar de nenhum."

-Monteiro Lobato, “Obras Completas”, 1946.





Monteiro Lobato - José Renato Monteiro Lobato ( 18 de abril de 1882, Taubaté, SP - 04 de julho de 1948, São Paulo, SP). Autor de literatura infantil e juvenil, escritor, jornalista e editor brasileiro.