Kaká Werá

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Reconhecer a Terra como Mãe


Muitos dos cantos que os guarani cantam nada mais são do que poesias, poemas de gratidão à mãe. Se vocês forem ver as traduções de alguns cantos que as crianças cantam, elas estão agradecendo ao raio do sol que emerge na manhã, estão agradecendo ao rio que corre, estão agradecendo à folha que cai, estão agradecendo à honra de poder caminhar sobre a terra.

Gratidão é o primeiro compromisso que nós temos com a terra, para com a mãe”.

-Kaká Werá, Encontro com Lideranças Indígenas, no Caminho do Meio, Viamão RS, em 24 de setembro de 2017. Fonte: “Revista Bodisatva”.


Todos nós somos parentes

Todos nós, quem? Todos nós homens, reino vegetal, reino animal, reino mineral, quer dizer, todos nós somos parentes. O reino animal antecedeu ao reino humano, o reino vegetal antecedeu ao reino animal, o reino mineral antecedeu ao vegetal, eles são os nossos ancestrais. [...] Os nossos ancestrais, nossos parentes, não são só nossos tios, avós, tataravós, sangue do nosso sangue; os nossos ancestrais vão além disso. As árvores são nossas avós, os animais são nossos bisavós, as pedras são nossas tataravós. É assim. Não é só uma força de expressão, não é mesmo, e vocês sabem disso. [...] a marca dos nossos ancestrais está em nós. A marca do reino vegetal está em nós, a marca do reino mineral está em nós, nós somos minerais, nós somos vegetais, nós somos dois terços de água no nosso organismo físico.

A herança genética desses ancestrais estão presentes no nosso corpo, no nosso organismo. O que acontece quando falta um mineral no nosso organismo? Não tem uma medicina que procura equilibrar o mineral no organismo, na saúde? Olha a presença dos nossos ancestrais aí”.

-Kaká Werá, Encontro com Lideranças Indígenas, no Caminho do Meio, Viamão RS, em 24 de setembro de 2017. Fonte: “Revista Bodisatva”.

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"Eu acredito que podemos combater com arte, literatura, ombridade, sabedoria, ética e valores. Pois assim estamos combatendo com a força da alma. Aquilo que não tem alma se auto-destrói. Aprendi com os guaranis que a palavra é o corpo da alma. Quando uma palavra vem com verdade, ela vem com a força do espírito. E isso contagia. Se a gente combater intolerância com intolerância estaremos somente alimentando mais ainda essa coisa terrível. E aquilo que alimentamos, vive. Assim como aquilo que não alimentamos, morre."

- Kaká Werá, em entrevista concedida a Renata Tupinambá/ Rádio Yandê, 23 de maio de 2015.

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"Para nós, a literatura indígena é uma maneira de usar a arte, a caneta, como uma estratégia de luta política. É uma ferramenta de luta. E por que uma luta política? Por que à medida que a gente chega à sociedade e a sociedade nos reconhece como portadores de saberes ancestrais e como intelectuais, ela vai reconhecer também que existe uma cidadania indígena. E que dentro da cidadania existem determinados direitos constitucionais que não ferem, que não desagregam a sociedade, seja indígena ou não indígena."

- Kaka Werá, “Coleção Tembetá”.

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"Andar é humano. Quem anda seus males espanta. Caminhar para mim é algo que une duas coisas: a saúde e o sagrado. Faz o corpo lembrar que está vivo; permite que músculos, órgãos e todo um complexo de motricidade cumpram sua tarefa. Faz todas as partes do organismo sentirem-se importantes, presentes, lúcidas e como resultado, brilha vitalidade pelos poros. Além do mais, faz parte da natureza humana tecer caminhos, abrir trilhas, estradas, conectar pontos, pessoas e lugares."

- Kaká Werá, em "Caminhar é preciso".

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"A natureza não é nossa inimiga, ela é nossa mãe. Se perdermos essa conexão, perderemos nossa própria essência."

-Kaká Werá, em “O Canto do Terebinto”.

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"Os brancos não compreendem que, para nós, o céu não é um lugar distante, ele é aqui, ele está dentro de cada um de nós."

-Kaká Werá, em “O Canto do Terebinto”.

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"A sabedoria dos anciãos não é só para ensinar, é para manter viva a chama do povo. Quem não aprende com os mais velhos, perde-se na escuridão do esquecimento."

-Kaká Werá, em “O Canto do Terebinto”.

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"A vida dos indígenas é um canto. Cada passo dado na terra é uma nota na melodia da criação."

-Kaká Werá, em “O Canto do Terebinto”.

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"É preciso que os jovens indígenas entendam que a nossa luta não é só pela terra, mas também pela manutenção de nossa identidade."

-Kaká Werá, em "O Relato do Povo Guarani-Kaiowá".






Kaká Werá, também conhecido como Kaká Werá Jecupé (São Paulo SP, 1964). Escritor, poeta e ativista indígena brasileiro. Algumas de suas principais obras incluem: "O Canto de Terebinto" (2001), "A Chegada do Novo Anjo" (2006), "O Relato do Povo Guarani-Kaiowá" (2007), "O Legado de Terebinto" (2012).