Jorge Amado

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Reprodução fotográfica Correio da Manhã/Acervo Arquivo Nacional




“Não possuímos direito maior e mais inalienável do que o direito ao sonho. O único que nenhum ditador pode reduzir ou exterminar.”

- Jorge Amado



“Eu continuo firmemente pensando em modificar o mundo e acho que a literatura tem uma grande importância.”

- Jorge Amado, em “Jornal da Tarde", 16/1/1988.



Viver é quase um milagre, e esse milagre o povo realiza diariamente.”

- Jorge Amado em "Entrevista concedida ao jornalista Ariosvaldo Matos, 'Revista Viver Bahia' ed. jul/set. 1978.



"A poesia não está nos versos, por vezes ela está no coração. E é tamanha. A ponto de não caber nas palavras."

- Jorge Amado



“A palavra é sempre perseguida por aqueles que desejam impedir que ela seja arma do homem na sua luta por uma vida melhor, de paz, fartura e alegria."

- Jorge Amado, em o "Tempo Magazine", Portugal em 1979.



“Mais poderoso é o povo que supera e vence as limitações, enfrenta as terríveis condições da vida e marcha em frente, para o futuro.”

-Jorge Amado



“Eu escrevo como me agrada; não há escritor mais livre neste país. Não tenho compromissos senão comigo mesmo: nem com modas, nem com escolas, nem com circunstâncias, nem com academias, nem com editores, nada. Tenho um único compromisso: com o povo – e não é demagogia, sou o antidemagogo. Com o povo, porque creio que meu dever de escritor é servi-lo. Quanto ao público, é ele que tem compromisso comigo e não eu com ele.”

-Jorge Amado, em “LISPECTOR, Clarice. Clarice Lispector entrevistas”.



“Milagre de amor não tem explicação, não necessita.”

- Jorge Amado



“Para mim, o sexo sempre foi uma festa. Aos 82 anos, a festa é muito diferente do que era aos 20, aos 50, mesmo aos 60: é uma festa que é feita da experiência, do refinamento."

- Jorge Amado, aos 82 anos, Folha de S.Paulo, 1994.



"Vivi ardentemente, lutei pela liberdade, contra preconceitos, amei, sofri, me alegrei, me diverti."

- Jorge Amado em "Entrevista concedida ao jornalista Ariosvaldo Matos, 'Revista Viver Bahia' ed. jul/set.1978.



“Não nasci para famoso nem para ilustre, não me meço com tais medidas, nunca me senti escritor importante, grande homem: apenas escritor e homem.”

- Jorge Amado, em “Navegação de Cabotagem”.



“Sou filho da cultura popular da Bahia e da cultura francesa. Esta é uma das minhas misturas."

- Jorge Amado, sobre a exposição em sua homenagem no Centro Georges Pompidou, em Paris. Jornal do Brasil, 22/12/1992.



“Não tenho nenhuma ilusão sobre a importância de minha obra, sobre a sua permanência, sobre seu valor cultural. Mas, se nela existe alguma virtude, é essa fidelidade ao povo brasileiro. Do primeiro ao último livro tenho apostado nele, na permanência da fé e da confiança.”

- Jorge Amado



“E, se não fôssemos nós, pontais ao crepúsculo, vagarosos caminhantes dos prados do luar, como iria a noite – suas estrelas acendidas, suas esgarçadas nuvens, seu manto de negrume – como iria ela, perdida e solitária, acertar os caminhos tortuosos dessa cidade de becos e ladeiras? Em cada ladeira um ebó, em cada esquina um mistério, em cada coração noturno grito de súplica, uma pena de amor, gosto de fome nas bocas de silêncio, e Exu solto na perigosa hora das encruzilhadas.”

- Jorge Amado, em "Pastores da Noite".



Nem a rosa, nem o cravo...

As frases perdem seu sentido, as palavras perdem sua significação costumeira, como dizer das árvores e das flores, dos teus olhos e do mar, das canoas e do cais, das borboletas nas árvores, quando as crianças são assassinadas friamente pelos nazistas? Como falar da gratuita beleza dos campos e das cidades, quando as bestas soltas no mundo ainda destroem os campos e as cidades?


Já viste um loiro trigal balançando ao vento? É das coisas mais belas do mundo, mas os hitleristas e seus cães danados destruíram os trigais e os povos morrem de fome. Como falar, então, da beleza, dessa beleza simples e pura da farinha e do pão, da água da fonte, do céu azul, do teu rosto na tarde? Não posso falar dessas coisas de todos os dias, dessas alegrias de todos os instantes. Porque elas estão perigando, todas elas, os trigais e o pão, a farinha e a água, o céu, o mar e teu rosto. Contra tudo que é a beleza cotidiana do homem, o nazifascismo se levantou, monstro medieval de torpe visão, de ávido apetite assassino. Outros que falem, se quiserem, das árvores nas tardes agrestes, das rosas em coloridos variados, das flores simples e dos versos mais belos e mais tristes. Outros que falem as grandes palavras de amor para a bem-amada, outros que digam dos crepúsculos e das noites de estrelas. Não tenho palavras, não tenho frases, vejo as árvores, os pássaros e a tarde, vejo teus olhos, vejo o crepúsculo bordando a cidade. Mas sobre todos esses quadros bóiam cadáveres de crianças que os nazis mataram, ao canto dos pássaros se mesclam os gritos dos velhos torturados nos campos de concentração, nos crepúsculos se fundem madrugadas de reféns fuzilados. E, quando a paisagem lembra o campo, o que eu vejo são os trigais destruídos ao passo das bestas hitleristas, os trigais que alimentavam antes as populações livres. Sobre toda a beleza paira a sombra da escravidão. É como uma nuvem inesperada num céu azul e límpido. Como então encontrar palavras inocentes, doces palavras cariciosas, versos suaves e tristes? Perdi o sentido destas palavras, destas frases, elas me soam como uma traição neste momento.


Mas sei todas as palavras de ódio, do ódio mais profundo e mais mortal. Eles matam crianças e essa é a sua maneira de brincar o mais inocente dos brinquedos. Eles desonram a beleza das mulheres nos leitos imundos e essa é a sua maneira mais romântica de amar. Eles torturam os homens nos campos de concentração e essa é a sua maneira mais simples de construir o mundo. Eles invadiram as pátrias, escravizaram os povos, e esse é o ideal que levam no coração de lama. Como então ficar de olhos fechados para tudo isto e falar, com as palavras de sempre, com as frases de ontem, sobre a paisagem e os pássaros, a tarde e os teus olhos? É impossível porque os monstros estão sobre o mundo soltos e vorazes, a boca escorrendo sangue, os olhos amarelos, na ambição de escravizar. Os monstros pardos, os monstros negros e os monstros verdes.


Mas eu sei todas as palavras de ódio e essas, sim, têm um significado neste momento. Houve um dia em que eu falei do amor e encontrei para ele os mais doces vocábulos, as frases mais trabalhadas. Hoje só ódio pode fazer com que o amor perdure sobre o mundo. Só ódio ao fascismo, mas um ódio mortal, um ódio sem perdão, um ódio que venha do coração e que nos tome todo, que se faça dono de todas as nossas palavras, que nos impeça de ver qualquer espetáculo - desde o crepúsculo aos olhos da amada - sem que junto a ele vejamos o perigo que os cerca.


Jamais as tardes seriam doces e jamais as madrugadas seriam de esperança. Jamais os livros diriam coisas belas, nunca mais seria escrito um verso de amor. Sobre toda a beleza do mundo, sobre a farinha e o pão, sobre a pura água da fonte e sobre o mar, sobre teus olhos também, se debruçaria a desonra que é o nazifascismo, se eles tivessem conseguido dominar o mundo. Não restaria nenhuma parcela de beleza, a mais mínima. Amanhã saberei de novo palavras doces e frases cariciosas. Hoje só sei palavras de ódio, palavras de morte. Não encontrarás um cravo ou uma rosa, uma flor na minha literatura. Mas encontrarás um punhal ou um fuzil, encontrarás uma arma contra os inimigos da beleza, contra aqueles que amam as trevas e a desgraça, a lama e os esgotos, contra esses restos de podridão que sonharam esmagar a poesia, o amor e a liberdade!”


-Jorge Amado (Texto originalmente publicado no jornal "Folha da Manhã", edição de 22/4/1945, e consta do livro "Figuras do Brasil: 80 autores em 80 anos de Folha", PubliFolha - São Paulo, 2001, pág. 79, organização de Arthur Nestrovski).




Jorge Amado e Zélia Gattai



“Sou, creio, um homem a quem a vida muito tem dado, mais do que mereço. Tenho alegria de viver, amo a vida e sempre a vivi ardentemente. Sou feliz com minha mulher, Zélia, e meu casal de filhos: João, com suas barbas e seu teatro; Paloma, com seu dengue e seu Garcia Lorca. Minha mulher é leal companheira. Tenho mãe viva, de 86 anos, Lalu, poderosa figura. Tenho dois irmãos que são amigos fiéis – um deles, James, é o bom escritor da família, em minha opinião. Tenho amigos excelentes; a amizade é o bem da vida. Vivo muito com meus amigos. Quanto a ser realizado, penso que o escritor que um dia se considere realizado, se não for um idiota (e deve ser) tem o dever de deixar de escrever, pois já se realizou.”

-Jorge Amado, em “LISPECTOR, Clarice - Clarice Lispector entrevistas”.





Jorge Amado, por Portinari - 1934.



Jorge Amado (10 de agosto de 1912, Itabuna, Bahia - 06 de agosto de 2001, Rio de Janeiro). Escritor brasileiro.