João Guimarães Rosa

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"O que a vida tem de bom é a oportunidade que ela dá de ser o que a gente quer ser."

-João Guimarães Rosa, em “Grande Sertão:Veredas”.



"Viver é um risco. Quando a gente tem medo, se afasta da vida."

-João Guimarães Rosa, em “Sagarana”.



"Cada dia é um dia. ...”Vida” é noção que a gente completa seguida assim, mas só por lei duma idéia falsa. Cada dia é um dia."

- João Guimarães Rosa, em "Grande Sertão: Veredas".



"Escrevendo, descubro sempre um novo pedaço de infinito. Vivo no infinito; o momento não conta. Vou lhe revelar um segredo: creio já ter vivido uma vez. Nesta vida, também fui brasileiro e me chamava João Guimarães Rosa. Quando escrevo, repito o que vivi antes. E para estas duas vidas um léxico apenas não me é suficiente. Em outras palavras: gostaria de ser um crocodilo vivendo no rio São Francisco. O crocodilo vem ao mundo como um magister da metafísica, pois para ele cada rio é um oceano, um mar da sabedoria, mesmo que chegue a ter cem anos de idade. Gostaria de ser um crocodilo, porque amo os grandes rios, pois são profundos como a alma do homem. Na superfície são muito vivazes e claros, mas nas profundezas são tranqüilos e escuros como os sofrimentos dos homens. Amo ainda mais uma coisa de nossos grandes rios: sua eternidade. Sim, rio é uma palavra mágica para conjugar eternidade."

- João Guimarães Rosa, em entrevista a Günter Lorenz - "Diálogo com Guimarães Rosa".


"Vida - coisa que o tempo remenda, depois rasga."

- João Guimarães Rosa, em "Estas Estórias".



"Se todo animal inspira ternura, o que houve, então, com os homens?"

- João Guimarães Rosa, do conto "Zoo" - no livro 'Ave, Palavra'.



"Refresca teu coração. Sofre, sofre, depressa, que é para as alegrias novas poderem vir…"

- João Guimarães Rosa, no livro “Ave, Palavra”.



"Alegre era a gente viver devagarinho, miudinho, não se importando demais com coisa nenhuma."

- João Guimarães Rosa, na novela "Campo Geral", em "Manuelzão e Miguilim"/ do livro 'Corpo de Baile'.



“O que a gente deve de deixar para trás é a poeira e as tristezas...”

- João Guimarães Rosa, da novela “Buriti”, em "Noites do Sertão", no livro 'Corpo de Baile'. 1965.



“Meu dever é a alegria sem motivo... Meu dever é ser feliz...”

- João Guimarães Rosa, da novela “Buriti”, em "Noites do Sertão", no livro 'Corpo de Baile'. 1965.



“E a vida inteira parecia ser assim, apenas assim, não mais que assim: um seguido despertar, de concêntricos sonhos – de um sonho, de dentro de outro sonho, de dentro de outro sonho... Até a um fim?”

- João Guimarães Rosa, da novela “Buriti”, em "Noites do Sertão", no livro 'Corpo de Baile'. 1965.



"Tudo, aliás, é a ponta de um mistério. Inclusive, os fatos. Ou a ausência deles. Duvida? Quando nada acontece, há um milagre que não estamos vendo."

- João Guimarães Rosa, do conto "O espelho", no livro 'Primeiras estórias'.



"Felicidade se acha é só em horinhas de descuido."

- João Guimarães Rosa, do conto "Barra da Vaca", no livro 'Tutaméia: terceiras estórias'.



"Você ainda pode ter muito pedaço bom de alegria...

Cada um tem a sua hora e a sua vez: você há de ter a sua."

- João Guimarães Rosa, do conto "A hora e vez de Augusto Matraga". no livro 'Sagarana'.



“Vivendo, se aprende; mas o que se aprende, mais, é só a fazer outras maiores perguntas."

- João Guimarães Rosa, em "Grande Sertão: Veredas".



"Amar é a gente querer se abraçar com um pássaro que voa."

- João Guimarães Rosa, em "Do diário em Paris", do livro 'Ave, palavra'.



"Eu sou é eu mesmo. Divêrjo de todo o mundo... Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa. O senhor concedendo, eu digo: para pensar longe, sou cão mestre – o senhor solte em minha frente uma idéia ligeira, e eu rastreio essa por fundo de todos os matos, amém!."

- João Guimarães Rosa, em "Grande Sertão: Veredas".



"Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou."

- João Guimarães Rosa, em "Grande Sertão: Veredas".



"A colheita é comum, mas o capinar é sozinho."

- João Guimarães Rosa, em "Grande Sertão: Veredas".



"Tem horas em que penso que a gente carecia, de repente, de acordar de alguma espécie de encanto."

- João Guimarães Rosa, em "Grande Sertão: Veredas".



"Amigo era o braço, e o aço! Amigo? Aí foi isso que eu entendi? Ah, não; amigo, para mim, é diferente. Não é um ajuste de um dar serviço ao outro, e receber, e saírem por este mundo, barganhando ajudas, ainda que sendo com o fazer a injustiça aos demais. Amigo, para mim, é só isto: é a pessoa com quem a gente gosta de conversar, do igual o igual, desarmado. O de que um tira prazer de estar próximo. Só isto, quase; e os todos sacrifícios. Ou – amigo – é que a gente seja, mas sem precisar de saber o por que é que é."

- João Guimarães Rosa, em "Grande Sertão: Veredas".



"Que era: que a gente carece de fingir às vezes que raiva tem, mas raiva mesmo nunca se deve de tolerar de ter. Porque, quando se curte raiva de alguém, é a mesma coisa que se autorizar que essa própria pessoa passe durante o tempo governando a idéia e o sentir da gente; o que isso era falta de soberania, e farta bobice, e fato é."

- João Guimarães Rosa, em "Grande Sertão: Veredas".



– “Adianta querer saber muita coisa? O senhor sabia, lá para cima – me disseram. Mas, de repente, chegou neste sertão, viu tudo diverso diferente, o que nunca tinha visto. Sabença aprendida não adiantou para nada...”

- João Guimarães Rosa, em "Grande Sertão: Veredas".



... Sertão é o sozinho... Sertão: é dentro da Gente."

- João Guimarães Rosa, em "Grande Sertão: Veredas".



"Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende."

- João Guimarães Rosa, em "Grande Sertão: Veredas".



"Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor."

- João Guimarães Rosa, em "Grande Sertão: Veredas".



"O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem."

- João Guimarães Rosa, em "Grande Sertão: Veredas".



“Vivendo, se aprende; mas o que se aprende, mais, é só a fazer outras maiores perguntas."

- João Guimarães Rosa



"O vento experimenta o que irá fazer com sua liberdade..."

- João Guimarães Rosa, do poema "Turbulência", em 'Magma'.



Sono das Águas

Há uma hora certa,

no meio da noite, uma hora morta,

em que a água dorme. Todas as águas dormem:

no rio, na lagoa,

no açude, no brejão, nos olhos d'água.

nos grotões fundos.

E quem ficar acordado,

na barranca, a noite inteira,

há de ouvir a cachoeira

parar a queda e o choro,

que a água foi dormir...


Águas claras, barrentas, sonolentas,

todas vão cochilar.

Dormem gotas, caudais, seivas das plantas,

fios brancos, torrentes.

O orvalho sonha

nas placas da folhagem.

E adormece

até a água fervida,

nos copos de cabeceira dos agonizantes...

Mas nem todas dormem, nessa hora

de torpor líquido e inocente.

Muitos hão de estar vigiando,

e chorando, a noite toda,

porque a água dos olhos

nunca tem sono...

- João Guimarães Rosa, em 'Magma'.


Saudade

Saudade de tudo!...

Saudade, essencial e orgânica,

de horas passadas,

que eu podia viver e não vivi!...

Saudade de gente que não conheço,

de amigos nascidos noutras terras,

de almas órfãs e irmãs,

de minha gente dispersa,

que talvez até hoje ainda espere por mim...


Saudade triste do passado,

saudade gloriosa do futuro,

saudade de todos os presentes

vividos fora de mim!...


Pressa!...

Ânsia voraz de me fazer em muitos,

fome angustiosa da fusão de tudo

sede da volta final

da grande experiência:

uma só alma em um só corpo,

uma só alma-corpo,

um só,

um!...

Como quem fecha numa gota

o Oceano

afogado no fundo de si mesmo...

- João Guimarães Rosa, em 'Magma'.


“O poeta não cita: canta. Não se traça programas, porque a sua estrada não tem marcos nem destino. Se repete, são idéias e imagens que volvem à tona por poder próprio, pois que entre elas há também uma sobrevivência do mais apto . Não se aliena, como um lunático, das agitações coletivas e contemporâneas, porque arte e vida são planos não superpostos mas interpenetrados, com o ar entranhado nas massas de água, indispensável ao peixe—neste caso ao homem, que vive a vida e que respira arte. Mas tal contribuição para o meio humano será a de um órgão para um organismo: instintiva, sem a consciência de uma intenção, automática, discreta e subterrânea.”

-Trecho do discurso proferido por Guimarães Rosa em agradecimento ao prêmio concedido pela Academia Brasileira de Letras, ao livro de poesia Magma.



“Minha biografia, sobretudo minha biografia literária, não deveria ser crucificada em anos. As aventuras não tem tempo, não tem princípio nem fim. E meus livros são aventuras: para mim, são minha maior aventura.”

- João Guimarães Rosa, em entrevista a Günter Lorenz - "Diálogo com Guimarães Rosa".






João Guimarães Rosa (27 de junho de 1908, Cordisburgo MG - 19 de novembro de 1967, Rio de Janeiro). Escritor, médico e diplomata brasileiro.