Emily Dickinson

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Se recordar fosse esquecer,

Eu não me lembraria.

Se esquecer, recordar,

Eu logo esqueceria.

Se quem perde é feliz

E contente é quem chora,

Que alegres são os dedos

Que colhem isto, Agora!

- Emily Dickinson - 'Não sou ninguém'. Poemas, tradução Augusto de Campos.


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Ontem é História,

Mas está tão longe —

Ontem é Poesia —

É Filosofia —


Ontem é mistério —

Mas onde está Hoje?

Mal especulamos

O tempo nos foge

- Emily Dickinson - 'Não sou ninguém'. Poemas, tradução Augusto de Campos.


&


Beleza — não tem causa — É —

Cace-a e ela cessa —

Não a cace e ela cresce —


Tente alcançar na Messe


As Ondas — quando o Vento

Passa os dedos por ela —

Deus do alto vela

Para negar o Intento —

- Emily Dickinson - 'Não sou ninguém'. Poemas (tradução Augusto de Campos).


&


“Dizem, ‘com o tempo se esquece’,

Mas isto não é verdade,

Que a dor real endurece,

Como os músculos, com a idade.


O tempo é o teste da dor,

Mas não é o seu remédio –

Prove-o e, se provado for,

É que não houve moléstia.

- Emily Dickinson, em "Emily Dickinson: Uma centena de poemas" (tradução, introdução e notas Aíla de Oliveira Gomes).


&


Tanto júbilo! Tanto!

Se eu errar, que pobreza!

Pobres como eu, no entanto,

Tudo arriscaram num só Lance!

Ganharam! Sim! Temendo embora —

Deste lado a Vitória!


Vida é só Vida! E Morte, Morte!

Ar é Ar, e Alegria, Alegria!

E se eu falhar, enfim,

É doce ao menos conhecer o ruim!

Perder não é mais que Perder,

Não há mais fim que o Fim!


Mas se eu ganhar! Canhões no Mar!

Sinos nas Torres, pelo ar

Ressoem lentamente!

O Céu é muito diferente

Quando sonhado; terra firme —

Poderá extinguir-me!

- Emily Dickinson - 'Não sou ninguém”. Poemas (tradução Augusto de Campos).


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Nossa porção de noite —

Nossa porção de aurora —

Nossa ausência de amor —

Nossa ausência de agrura —


Uma estrela, outra estrela

Que se extravia!

Uma névoa, outra névoa,

Depois – o Dia!

- Emily Dickinson - 'Não sou ninguém”. Poemas (tradução Augusto de Campos).


&


Uma palavra se abre

Como um sabre —

Pode ferir homens armados

Com sílabas de farpa

Depois se cala —

Mas onde ela caiu

Quem se salvou dirá

No dia de desfile

Que algum Irmão de armas

Parou de respirar.


Aonde vá o sol sem ar —

Por onde vague o dia —

Lá está esse assalto mudo —

Lá, a sua vitória!

Observa o atirador arguto!

O tiro mais perfeito!

O alvo do Tempo

O mais sublime

É um ser “ignoto!”

- Emily Dickinson - 'Não sou ninguém”. Poemas (tradução Augusto de Campos).


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A uma luz evanescente

Vemos mais agudamente

Que à da candeia que fica.

Algo há na fuga silente

Que aclara a vista da gente

E aos raios afia.

- Emily Dickinson - "80 Poemas de Emily Dickinson" (tradução Jorge de Sena).





Emily Dickinson - retrato por Sophie Herxheimer



Emily Elizabeth Dickinson (10 de dezembro de 1830, Amherst USA - 15 de maio de 1886, Hamherst USA). Poetisa americana que não chegou a publicar seus versos em vida. Após seu falecimento os familiares encontraram em seu quarto cadernos, folhas soltas e uma grande quantidade de poemas. Em 1955, o crítico e biógrafo Thomas H. Johnson reuniu numa edição definitiva toda a sua obra.