We can't find the internet
Attempting to reconnect
Something went wrong!
Hang in there while we get back on track
Davi Kopenawa Yanomami
Atualizado em
"Acho que vocês deveriam sonhar a terra, pois ela tem coração e respira".
- Davi Kopenawa, em entrevista a F. Watson (Survival International), Boa Vista, jul. 1992, no livro "A queda do céu – palavras de um xamã Yanomami", de Davi Kopenawa Yanomami e Bruce Albert.
"Não sou um ancião e ainda sei pouco. Entretanto, para que minhas palavras sejam ouvidas longe da floresta, fiz com que fossem desenhadas na língua dos brancos. Talvez assim eles afinal as entendam, e depois deles seus filhos, e mais tarde ainda, os filhos de seus filhos. Desse modo, suas ideias a nosso respeito deixarão de ser tão sombrias e distorcidas e talvez até percam a vontade de nos destruir."
- Davi Kopenawa, no livro "A queda do céu – palavras de um xamã Yanomami", de Davi Kopenawa Yanomami e Bruce Albert.
O silêncio da floresta
"Para os que cresceram no silêncio da floresta, ao contrário, a barulheira das cidades é dolorosa. É por isso que, quando fico lá muito tempo, minha mente fica tampada e vai se enchendo de escuridão. Fico ansioso e não consigo mais sonhar, porque meu espírito não volta à calma. Eu nasci na floresta, e por isso prefiro viver nela. Só posso ouvir os cantos dos xapiri e sonhar com eles cercado de sua tranquilidade. Gosto do silêncio dela, apenas quebrado pelos chamados fortes dos pássaros hwãihwãiyama, os gritos roucos das araras, o choro dos tucanos, os berros dos bandos de macacos iro ou o trinado dos papagaios. Essas vozes agradam a meus ouvidos. Quando volto de minhas viagens entre os brancos, depois de algum tempo a tontura deixa meus olhos e meu pensamento volta à claridade."
- Davi Kopenawa, no livro "A queda do céu – palavras de um xamã Yanomami", de Davi Kopenawa Yanomami e Bruce Albert.
A floresta está viva
"A floresta está viva. Só vai morrer se os brancos insistirem em destruí-la. Se conseguirem, os rios vão desaparecer debaixo da terra, o chão vai se desfazer, as árvores vão murchar e as pedras vão rachar no calor. A terra ressecada ficará vazia e silenciosa. Os espíritos xapiri, que descem das montanhas para brincar na floresta em seus espelhos, fugirão para muito longe. Seus pais, os xamãs, não poderão mais chamá-los e fazê-los dançar para nos proteger. Não serão capazes de espantar as fumaças de epidemia que nos devoram. Não conseguirão mais conter os seres maléficos, que transformarão a floresta num caos. Então morreremos, um atrás do outro, tanto os brancos quanto nós. Todos os xamãs vão acabar morrendo. Quando não houver mais nenhum deles vivo para sustentar o céu, ele vai desabar."
- Davi Kopenawa, prólogo, no livro "A queda do céu – palavras de um xamã Yanomami", de Davi Kopenawa Yanomami e Bruce Albert.
A palavra como flecha
“Eu falo com as pessoas em grupos grandes e grupos pequenos. Converso com elas, falo a respeito da nossa sobrevivência na Terra. O pessoal escuta, mas a fala da gente não vai tão longe, por isso pensei no arco e flecha. A gente estica e solta para ir mais longe, para tocar o coração, para olhar e escutar. Se a flecha não toca, não se olha nem se escuta. Por isso eu escolhi a palavra como flecha, para falar com o não indígena. Se eu falasse apenas pela boca: destruidor, não pode derrubar essa árvore não! Ele escutaria, mas não iria acreditar. Tem que falar bem forte para ele sentir quem é que está falando para ele. Assim que eu escolho a palavra para usar como flecha. O livro A Queda do Céu está na cabeceira do caminho. O livro está entrando na universidade, circulando pelas cidades. É uma flecha forte.”
- Davi Kopenawa, entrevista concedida a Amazônia Real.
A natureza é uma luz
“A natureza é uma luz para segurar a cultura da terra. A terra não vai morrer, mas a floresta vai morrer. Quando o homem da cidade derrubar muito, ele vai acabar com a floresta. Omama que está nos protegendo, Omama que está junto com a natureza, com a floresta que sustenta a nossa sobrevivência hoje, e a das futuras gerações. Nossos filhos vão continuar a sustentar a floresta.”
-Davi Kopenawa Yanomami, entrevista concedida a Paulina Chamorro, National Geographic.
Muito importante escrever
“Bem, é realmente muito importante [escrever] o meu pensamento, o meu sonho que eu trouxe para acontecer, no papel. Eu com o Bruce [Albert, co-autor de A Queda do Céu] primeiro, né? Porque eu ficava falando sem livro, com reunião pública. [Você] escuta, mas depois não lembra mais. Branco gosta de ler – lê um pouquinho e depois guarda. Então pensei em fazer e escrever um livro. Primeiro escrevemos A Queda do Céu. Segundo, pensamos em criar a associação Hutukara Associação Yanomami, que é a nossa arma, a nossa arma para escrever documentos para autoridades. Terceiro, nós pensamos, e eu pensei, em convidar Luís Bolognesi para fazer um filme. Filme aqui na cidade tem muitos. Não está trazendo benefício de nada, só fica olhando pessoas moradoras da cidade, só vai lá para olhar. Cadê o resultado? Resultado não vem. Então pensei na última floresta, que está na Amazônia, onde moro. Outras já acabaram. Europa não tem mais floresta. Lá no Japão não tem mais floresta. Aqui não tem mais floresta. Floresta é isso aqui pequenininho. Isso não é floresta.”
-Davi Kopenawa Yanomami, entrevista concedida a Paulina Chamorro, National Geographic.
"Eu gostaria que os brancos escutassem nossas palavras e pudessem sonhar eles mesmos com tudo isso, porque, se os cantos dos xamãs deixarem de ser ouvidos na floresta, eles não serão mais poupados do que nós."
- Davi Kopenawa, no livro "A queda do céu – palavras de um xamã Yanomami", de Davi Kopenawa Yanomami e Bruce Albert.
“Sou o doutor honoris da floresta que eu nasci e cresci. Fiquei muito contente, muito alegre, junto com a floresta que está viva e em pé. Ser doutor honoris é o resultado da minha luta."
-Davi Kopenawa Yanomami, ao receber o título doutor Honoris Causa, máxima distinção acadêmica da Universidade Federal de Roraima (UFRR).
Davi Kopenawa Yanomami (18 de fevereiro 1956, Alto Rio Toototobi, Amazonas).
Escritor, xamã, líder yanomami e presidente da Hutukara Associação Yanomami.