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Agostinho da Silva
Atualizado em
“Quem ama verdadeiramente ama o que lhe aparece, tal como é, e, ao mesmo tempo, o que será aquele mesmo ser desenvolvendo-se, como Deus o quer, em plena liberdade. Amar alguém ou alguma coisa é primacialmente instalá-lo num clima de plena liberdade, com todos os riscos que a liberdade comporta: desejar é limitar na liberdade, a nós e aos outros. Mas quando verdadeiramente amor existe, então realizamos na terra o que há de mais belo e de mais raro: porque todo o amor que ama o eterno é o amor de Deus amando-se a si próprio.”
- Agostinho da Silva, “Ritmos de Marcha”, “As Aproximações” (1960), Textos e Ensaios Filosóficos II.
"Cada pessoa deve ser total, completa, e ter liberdade para o ser. Sempre bati no ponto, para mim importantíssimo, da liberdade total, não condicionada: cada um ser aquilo que é, coisa bastante restringida pela aparelhagem política e económica. O homem foi feito para ser um poeta à solta, seja qual for a sua expressão poética. Pode ser a música, a literatura ou coisa nenhuma... Olhar os gatos, as pedras, as árvores. Até pode acontecer que uma pessoa não seja absolutamente nada, de repente tenha uma ideia estupenda para o bem do mundo."
- Agostinho da Silva, AGOSTINHO, ENSINE-NOS, Entrevista a Lurdes Féria, 1986, em Paulo Borges (org.), AGOSTINHO DA SILVA - DISPERSOS, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Ministério da Educação, 1988.
"Deus não exige de nós nenhum culto; prestamos a nossa homenagem a Deus, entramos em contacto pleno com o Universo, quando desenvolvemos a nossa Inteligência e o nosso Amor: um laboratório, uma biblioteca são templos de Deus; uma escola é um templo de Deus; uma oficina é um templo de Deus; um homem é um templo de Deus, e o mais belo de todos. Todos podemos ser sacerdotes, porque todos temos capacidades de Inteligência e de Amor; e praticamos o mais elevado dos cultos a Deus quando propagamos a cultura, o que significa o derrubamento de todas as barreiras que se opõem ao Espírito. Estão ainda longe de Deus, de uma visão ampla de Deus, os que fazem consistir o seu culto em palavras e ritos; mas dos que subirem mais alto não pode haver outra atitude senão a de os ajudar a transpor o longo caminho que ainda têm diante. Ninguém reprovará o seu irmão por ele ser o que é; mas com paciência e persistência, com inteligência e amor, procurará levá-lo ao nível mais alto."
- Agostinho da Silva, DOUTRINA CRISTÃ (1943), em TEXTOS E ENSAIOS FILOSÓFICOS I.
"A única salvação do que é diferente é ser diferente até ao fim, com todo o valor, todo o vigor e toda a rija impassibilidade; tomar as atitudes que ninguém toma e usar os meios de que ninguém usa; não ceder a pressões, nem aos afagos, nem às ternuras, nem aos rancores; ser ele; não quebrar as leis eternas, as não-escritas, ante a lei passageira ou os caprichos do momento; no fim de todas as batalhas - batalhas para os outros, não para ele, que as percebe - há-de provocar o respeito e dominar as lembranças; teve a coragem de ser cão entre as ovelhas; nunca baliu; e elas um dia hão-de reconhecer que foi ele o mais forte e as soube em qualquer tempo defender dos ataques dos lobos."
- Agostinho da Silva, DIÁRIO DE ALCESTES (1945), TEXTOS E ENSAIOS FILOSÓFICOS I.
"A visão mais alta que podemos ter de Deus, nós que somos apenas uma parte do Universo, é uma visão de Inteligência e Amor; os pecados fundamentais que o homem poderá cometer são as limitações da Inteligência ou do Amor: toda a doutrina estreita, sem tolerância e sem compreensão da variedade do mundo, toda a ignorância voluntária, todo o impedimento posto ao progresso intelectual da humanidade, toda a violência, todo o ódio, limitam o nosso espírito e o dos outros, impedem que sintamos a grandeza, a universalidade de Deus."
- Agostinho da Silva, DOUTRINA CRISTÃ (1943), em Textos e Ensaios Filosóficos, I.
"Aquilo que distingue realmente uma criança de todo o resto que é vivo no Universo é a capacidade enorme de sua absorção no jogo. A capacidade enorme de imaginar que as coisas efetivamente estão surgindo como ao toque mágico de uma vara de fada e fazer que perante isso o tempo não exista. O milagre que uma criança faz quotidianamente no mundo é aquele milagre de conseguir que o tempo desapareça de sua vida na realidade. Aquela historieta que se conta do monge da Idade Média que esteve trezentos anos ouvindo um rouxinol cantar e teve por aí a ideia do que deve ser a eternidade, esse milagre de monge medieval é repetido realmente pela criança todos os dias quando brinca. Tempo para ela desaparece, e é o adulto que vem impor-lhe normas de tempo; o adulto existe no mundo da criança para interromper a cada momento a história do monge e do rouxinol".
- Agostinho da Silva, Pedagogia e Personalidade, (1961).
“Já reparou naquilo a que chamo a agonia do trabalho? Toda a nossa vida gira em função do trabalho. Quando se pergunta a alguém o que é, nunca temos a resposta: sou homem ou sou mulher. Diz-se: sou engenheiro, eletricista, médico. Só se é gente em referência ao trabalho. Um desempregado sente-se um pária e, todavia, ele é gente, a coisa mais extraordinária que se pode ser. Espero que as máquinas venham restituir às pessoas, aliviando-as do trabalho, a capacidade criativa, aquilo que nelas se oculta. Mas a transição parece-me estar a ser difícil porque as pessoas demoram muito tempo a render-se ao novo. Exigem provas seguras, entram com cautela no desconhecido."
- Agostinho da Silva, AGOSTINHO, ENSINE-NOS (Entrevista a Lurdes Féria), 1986, em DISPERSOS, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, 1988.
Por causa do mundo curvo
eis aqui o que procuro
ter eu amor do passado
com a paixão do futuro
mas há remédio bem simples
para não ser inseguro
é amar vida sem tempo
ou seja o presente puro.
- Agostinho da Silva, “Uns Poemas de Agostinho”.
Em mim tenho o mundo inteiro
e mais que tudo as estrelas
é procurá-las no céu
o que me impede de vê-las.
- Agostinho da Silva, “Quadras Inéditas”.
Divino Espírito Santo
senhor do imprevisível
me toma pois da verdade
só quero o que for incrível.
- Agostinho da Silva, em “Quadras Inéditas".
Mais que tudo quero ter
pé bem firme em leve dança
com todo o saber de adulto
todo o brincar de criança.
-Agostinho da Silva, “Uns poemas de Agostinho", 1989.
"Felicidade ou paz nós as construímos ou destruímos; aqui, o nosso livre-arbítrio supera a fatalidade do mundo físico e do mundo do proceder; toda a experiência que vamos tendo, mesmo parecendo negativa, a podemos transformar em positiva."
- Agostinho da Silva, “Só Ajustamentos”.
“Aqui tem você um conselho que lhe poderá servir para a sua filosofia: não force nunca; seja paciente pescador neste rio do existir. Não force a arte, não force a vida, nem o amor, nem a morte. Deixe que tudo suceda como um fruto maduro que se abre e lança no solo as sementes fecundas. Que não haja em si, no anseio de viver, nenhum gesto que lhe perturbe a vida”.
-Agostinho da Silva, "Sete Cartas a um Jovem Filósofo".
"Adotar uma só máscara? Eu acho que isso não deve ser o ideal. Porque o ideal é ir na corrente do rio, bem alegre, bem divertido com o rio, pronto para ir para todos os lugares aonde ele levar, porque acho que todas as pessoas que têm um ideal, de certo modo estão presas a esse ideal. É que o voto fundamental da pessoa deve ser, de fato, o voto à liberdade.
[...] Quando as pessoas pensam num ser divino que as vigia, que bate num, que premia outro, etc., estão realmente a transportar-se a si próprias para uma atmosfera divina, para um poder divino que de nenhuma maneira lhes pertence. O que há lá, a tal outra coisa que pode ser tudo, é tão ilimitada, que não pode tomar nenhuma das nossas histórias; realmente, pela essência é imprevisível, voa a tudo. Então talvez que o ideal da Humanidade, um ideal muito importante hoje na História, é passarmos do previsível para o imprevisível. Porque nós estamos a viver e a criar uma civilização desde a primeira Pré-História, uma civilização em que nos parece que temos por ideal o previsível. [...] Então acho que só nos podemos soltar disso começando a amar, a querer o imprevisível. Porque se o quisermos, estamos na posição de termos ao mesmo tempo um ideal - o imprevisível - e de não ter ideal nenhum, porque ele é imprevisível."
- Agostinho da Silva, “Vida Conversável.
Agostinho da Silva (George Agostinho Baptista da Silva) 13 de fevereiro de 1906, Porto - 03 de abril de 1994, Lisboa, Portugal. Filósofo, poeta e escritor português. Em 1947 exilou-se no Brasil, onde viveu até 1969.